quinta-feira, 28 de junho de 2012

Adapt

Eu gostava de puder adaptar o mundo. Ou melhor gostava que o mundo não tivesse de ser tão relutante à mudança. Num epísódio, duma série que gosto - Touch - Jake, uma criança autista, que faz sempre a narração do início dos episódios, começa por dizer que os seres humanos são muito resistentes à mudança, mas que se esquecem constantemente que o "agora" não existe, que cada momento que já passou é diferente do anterior e do futuro. E por momentos, entenda-se nanosegundos. Ora, esse início do episódio fez tanto sentido, que só por aí já valeu o episódio. Porque realmente nada é constante, tudo é diferente do que era à bocadinho e do que vai ser daqui a nada. Pensar no que o mundo já mudou desde que comecei a escrever este post é fantástico e, também, confesso, assustador. No entanto, pelo lado positivo da coisa, se todos pensassemos nisso, penso que este mundo seria muito mais tolerante. Muito mais adaptável. Se o mundo muda, naturalmente, a cada nanosegundo, quem somos nós para ditar "regras" no mundo. Se eu continuasse e me entusiasmasse pelo tema "regras do mundo" ia, concerteza, de encontro a um texto que escrevi e deixei aqui sobre a nossa não-liberdade pessoal. Mas vendo por outro prisma, posso apenas deixar a questão, se o mundo é tão naturalmente móvel, repentino e ele próprio adaptável ao desconhecido, ao perigoso, ao diferente, porque é que nós "seres do mundo" não o somos?
E porque demoramos tempos a nos adaptarmos a pessoas de outra cor de pele? Porque demoramos tempos a nos adaptar à mulher no ambiente de trabalho? Porque é que ainda hoje é estranho ser  um homem a cozinhar e arrumar a casa, e ainda os chamam de "prendados" e "um achado"? Porque é que ainda hoje não aceitamos um casal homossexual? Porque é que é senso comum que um filho adoptado por dois pais ou duas mães vai viver num ambiente familiar desadequado? E porque é que sempre que passamos por crianças, ou adultos com deficiências desviamos o olhar?
Se isto não é resistência à mudança e adaptação então somos seres mais estranhos do que pensava. Eu não sou exemplo, muito do que enumerei também já o fiz, ou ainda o faço. Mas estou a fazer um esforço. Um esforço por ser um ser dum mundo que é naturalmente adaptável, um ser que vive num planeta cuja natureza muda sem qualquer dificuldade. E, assim, eu faço o meu esforço por ser adaptável, como todos os outros animaizinhos e vidas biológicas, umas grandes, outras muito pequeninas que por aí andam. E invejo essas vidas biológicas que por aí andam, porque tenho a certeza que uma E. coli, um Helycobacter pilory, um leão, uma baleia, nunca iriam desprezar outro que estivesse no seu meio, a não ser pelo seu próprio instinto de sobrevivência. E que eu saiba negros, asiáticos, pessoas com deficiencias, gays, lésbicas ou bissexuais, por nascerem não roubam mais ar do que qualquer outro ser humano.


2 comentários:

  1. Parabéns!

    Muito bom este texto. Começas por falar numa série que me apaixonou. Depois, adaptas essa ficção a uma realidade muito presente e com perguntas muito interessantes. Gostei muito.

    homem sem blogue
    homemsemblogue.blogspot.pt

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